sábado, 6 de dezembro de 2008

Mais uma vez... e com sentimento!


No comboio, a caminho de Aveiro, fechei os olhos e pensei em todos os planos e sonhos que tinha para mim quando era uma jovem de 16/17 anos... Sorri... Como eu era ingénua! Naquele tempo nunca, em toda a minha vida, imaginei que acabaria por correr o norte e centro do país a dar formação... Nunca imaginei que acabaria sozinha, sem ninguém com quem partilhar a minha vida... sem ninguém a quem dizer "queriiiiiiiiido, chegueeeeeei!" ao entrar em casa depois de um dia fastidioso de trabalho. Depois deste pensamento, vários outros, entre eles recordações do passado, assombraram-me a mente. Recordações que prefiro manter guardadas no canto mais obscuro do meu ser. Depois de todas estas imagens me terem cortado por dentro, repensei no assunto e decidi que... provavelmente... a minha vida não poderia ter sido diferente. Não consigo imaginar a minha vida diferente da que tenho agora (apesar de estar a precisar de melhorar alguns aspectos... uma reformazita... mas... adiante! avante, camaradas!). Não consigo imaginar-me casada, com 1,5 filhos, a viver numa casa com uma garagem para dois carros, e a andar sorridente pela rua (escondendo uma vertente sado-maso - espancamento e submissão do marido à noite - sim, porque eu sou um demónio!). Enfim... penso que não é a vida que eu quero para mim. Acho que nunca me conseguiria habituar a tais rotinas. Não consigo pensar numa vida sem os meus sarcasmos, sem poder entrar e/ou sair sem dar satisfações a maridos exigentes e fastidiosos... etc, etc, etc!

Ainda de olhos fechados, imaginei uma outra pessoa, a viver uma outra vida, a sorrir um outro sorriso, a pensar outros pensamentos (com toda a certeza, menos profundos)... e pensei se, nesse caso, seria ou não uma pessoa mais feliz... Cheguei à conclusão que seria uma pessoa mais feliz, porque seria uma pessoa alheia às coisas e os conhecimentos que fui reunindo durante os meus anos de vida... seria uma pessoa menos sarcástica e mais resignada ao que o destino me reserva... seria uma pessoa oca, sem conteúdo, sem nada de substancial ou interessante para transmitir ao mundo... sem experiências ou vivências para recordar ou partilhar... Neste momento, sou uma pessoa que mergulha de cabeça na melancolia... ávida leitora de tudo o que Edgar Allen Poe alguma vez escreveu... apaixonada pela música (alternativa, indie, rock, blues, folk, celta...), especialmente a que transmite uma mensagem à qual estou completamente aberta... Enfim... estou a divagar... perdi-me a contar os pensamentos que me invadiram durante a minha viagem de Porto a Aveiro. Uma hora de pensamentos... uma hora que me pareceu uma eternidade!

Muitos dos sentimentos que experimentei durante a minha curta vida (curta... é relativo... são 31 anos... para mim é curta, mas para os chavalos que curtem o rebelde way é uma eternidade; para eles, sou uma relíquia manuelina), estão agora dormentes... A minha alma, que outrora erradiava uma luz brilhante que cegaria até o mais puro dos anjos, transformou-se numa sombra errante, ao estilo dos espíritos descritos no célebre romance "wuthering heights" de emily bronte. Sinto-me atormentada, exasperada, frustrada, confusa mas sem vontade de gritar ao mundo os meus ódios; Estou apática, sem voz... possuída por uma ausência de capacidade para exteriorizar seja o que for que estou a sentir...

Abri os olhos... e uma pequena esperança crepitou em mim, ao pensar que, talvez, o karma e a teoria da reencarnação sejam a derradeira "verdade" e, assim, poderei voltar ao mundo e viver novamente. Talvez durante essa nova vida eu terei a oportunidade de experimentar tudo aquilo que planeei e sonhei para mim quando tinha 16/17 anos. É caso para dizer: "Mais uma vez... e com sentimento!".

E assim passei o tempo entre a estação de S.Bento (Porto) e a estação de Aveiro... sempre absorta em pensamentos... 60 minutos que me pareceram 60 vidas.

2 comentários:

Pedrão disse...

São 3 da manha, mas aqui vai o meu contributo.

Li tudo o que escreves.te.

E acho curioso, quase obvio, mas porque é que as mulheres a partir dos 30 pensam que são reliquias e ao mesmo tempo, porque é que têm bastantes pensamentos nostalgicos?

Ou será uma grande minoria, em que tu estas incluida?

Toda esta tendência para fazer o backtracking of life é necessária. É necessário faze.lo em quase todos os momentos da vida, mas noto uma tendência agravante a partir dos 30.

Eu com a idade que tenho, só tenho em conta a minha experiência até então e das histórias que vejo e que me contam.

Tendo em conta tudo isto, acho que para além do gosto ou não de se viver em nostalgia, deve.se seguir em frente, ir juntado as peças que a vida nos dá e espalhando e juntando, com tudo isto, ganhando momentos de felicidade, porque afinal de contas é para isso que aqui estamos.

O tempo não volta para traz, portanto o melhor é ir vivendo, construindo e desconstruindo. Por muito dificil que seja...

Tambem acho reconfortante a ideia de reencarnaçao... e gira até... Acho que fazes bem pensar assim, mas....

NÃO...

A tua vida não acabou aos 30.
O mundo não vai acabar em 2015.
O que é hoje, pode não ser amanha.

e.. SIM..

Olha para as tuas qualidades.
Relembra apenas os bons momentos passados, vivendo o presente.
Nunca é tarde para fazer, seja aquilo que for.



Bj :)

Edna disse...

Não considero que a minha vida acabou aos 30 anos... mto pelo contrário. Ainda agora comecei a "espernear". Mas, e apesar de ter consciência de que ainda tenho mto para viver/aprender, não consigo evitar olhar para trás e pensar "what if..." Há situações na nossa vida (seja ela curta ou mais extensa) que nos levam, um dia mais tarde, a pensar "what if..." E é isso que tenho pensado ultimamente. Nos "what ifs" passados e nos "what ifs" futuros. Penso que, neste momento, estou bem no meio de um dos maiores "what ifs" da minha vida. If you know what I mean... lol